quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Resposta a Folha de Blumenau

No dia 08/02/2011 o Jornal Folha de Blumenau publicou a matéria  uma matéria defendendo o uso da Moto e contra o  uso de transporte Coletivo e de Bicicletas. Link: http://www.folhadeblumenau.com.br/site/noticia.php?noticia=11360

Em resposta o Arquiteto Fabrício José Barbosa enviou o seguinte texto ao jornal:


"A/C
Editores Jornal Folha de Blumenau

Prezados Editores,
 
Cumprimentando-os cordialmente, venho por meio deste corrigir o grande equívoco da opinião deste editorial com relação a seguinte afirmativa:
"O governo (do município de Blumenau) investe em medidas paliativas... ..., insiste em implantar ciclovias numa cidade onde o calor chega a 40 graus, chove muito e a topografia não ajuda;".
Fonte: Jornal Folha de Blumenau, edição 442 - 8 de Fevereiro de 2011 - Seção Opinião
 
É uma afirmação totalmente sem fundamentação técnica-científica. Para contrapor cada um dos três equívocos supra citados, irei esclarecê-los uma de cada vez.
 
"Calor chega a 40 graus"
Estas temperaturas são atingidas apenas pouquíssimos dias ao ano e entre no horário das 13h às 15h.
Na última segunda-feira (21 de fevereiro de 2011) às 13h pedalei a distância curta de 1,3km em 4 minutos com a temperatura a 29ºC. É o mesmo que caminhar 400m. Alguém por acaso já ficou incapaz de trabalhar nestas condições?
Ademais, curtos trajetos urbanos são possível de serem pedalados no verão no início da manhã e após o final da tarde. Nestes horários a temperatura é cerca de 4 a 5ºC mais amena que no intervalo das 13h às 15h.
Conforme dados do IPA (Instituto de Pesquisas Ambientais) da FURB as temperaturas, mesmo no verão, que coincide com a época de férias, no início da manhã (às 7h) e após o final da tarde (às 19h) são de aproximadamente 28ºC. São portanto bem abaixo da afirmação sem fundamentação científica apontada pelos senhores.
 
"Chove muito"
A intensidade pluviométrica de Blumenau é de aproximadamente 1600mm por ano. Só que estas chuvas não estão uniformemente distribuídas ao longo do ano. Na média, de cada 3 dias apenas um é com chuva.
Na Holanda, por exemplo, a intensidade pluviométrica gira em torno de 800mm, só que caracterizado por freqüentes chuvas. Ou seja, as chuvas são mais constantes. E por lá utiliza-se a bicicleta em 28% das viagens contra apenas 3% em Blumenau. Também para a chuva existem capas de chuva específicas e na Europa o mercado está forrado destes produtos. São como as capas de chuva para motociclistas ou pedestres, só que para ciclistas.
 
"A topografia não ajuda"
Por acaso Blumenau tem somente morros? Somos parecidos com a cidade mineira de Ouro Preto? É claro que não!
Ademais, as principais ruas e avenidas de Blumenau percorrem as principais áreas planas da cidade. Entre estas podemos citar Rua 7 de Setembro, Avenida Beira-Rio, Rua XV de Novembro, Rua São Paulo, Rua Engº Paulo Werner, Rua Amazonas, Rua Itajaí, Avenida República Argentina, Rua Hermann Huscher, Rua das Missões, Rua 2 de Setembro, Rua Bahia, Rua Almirante Barroso, Rua João Pessoa, Rua Gustavo Zimmermann, Rua Frederico Jensen e tantas outras que possuem parte da extensão em áreas planas.
Estas áreas são conhecidas como fundos de vale. Deste modo é perfeitamente possível pedalar da Velha até a Vila Nova por áreas planas (Rua Almirante Tamandaré, Praça do Estudante Rua Theodoro Holtrup).
 
 
Cidades (inclusive algumas com clima parecido com o de Blumenau) que incentivam o uso da bicicleta o fazem priorizando viagens em distâncias inferiores a 3km, que podem ser pedaladas em menos de 15 minutos em ritmo de passeio.
Ao finalizar este artigo, tive a satisfação de percorrer 1,3km em 5 minutos, com gasto calórico equivalente ao mesmo de uma caminhada por 400 metros. Ou seja, uma pessoa transpira três vezes menos pedalando que caminhando a mesma distância.
É por estes e tantos outros motivos que afirmo ser perfeitamente possível atingirmos maior uso da bicicleta em Blumenau.
 
Para isso precisamos que três pontos fundamentais sejam atendidos:
 
1) envolvimento das entidades da sociedade: é o trabalho desenvolvido pela ABC (www.abciclovias.com.br) e que deve estar na pauta das associações de moradores e entidades afins;
2) educação contínua: de nada adianta ensinar regras (placas e sinais) para automóveis a crianças de 8 anos se elas poderão dirigir apenas aos 18 anos. É preciso ensiná-las a pedalar em ruas com baixo movimento e seguras. É preciso ensinar a ser ciclista nos CFCs (auto-escola);
3) engenharia viária coerente: o Sistema Cicloviário de Blumenau é um bom projeto na teoria mas na prática carece totalmente de fundamentação técnica. Ciclovias, ciclofaixas e passeios compartilhados estão sendo executados de forma errada. E a prioridade nos projetos das ruas continua a ser dos carros (vide acesso ao Neumarkt e a rua do Hospital Santa Isabel). Enquanto a bicicleta não tiver prioridade (preferência) no trânsito, o Sistema não servirá para nada. Apenas para gastar dinheiro e para dizer que: "olha lá, a Prefeitura fez mas os ciclistas não usam. Então para quê gastar dinheiro nisso".
 
É claro que os ciclistas não se sentem estimulados a utilizar um sistema que não funciona.
 
Sem mais no momento, subscrevo-me.
 
Atenciosamente,
Fabrício José BarbosaPublicar postagem
Arquiteto e Urbanista
CREA-SC 063599-3
Especialista em Planejamento Cicloviário
Diretor Técnico da ABC"

2 comentários:

  1. Concordo com a resposta que o Fabricio fez a materia do Jornal. Acho um absurdo o jornal publicar algo sem nenhum fundamento, o autor por sinal nao deve conhecer nada sobre o assunto e tambem nao buscou informar-se a respeito. Infelizmente terao leitores que usarao tal argumento como desculpa para deixar de usar a bicicleta ou transporte publico. Como ja falei em alguns comentarios aqui neste blog, Blumenau nao precisa de 1000km de ciclovias, basta 50km ou 100km de qualidade.

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  2. Estes argumentos já são usados direto, nisto o comentarista, nem teve o trabalho de pensar. Os que apóiam a Moto ou o carro como solução unica e exclusiva para o problema de Blumenau. Usam deste argumentos. Se vendeu que Blumenau é só morro, quando na verdade algumas pessoas morram em Morros. A maior parte do sistema Produtivo/financeiro se encontram nas partes plainas da cidade. Dentro do Eixo que o Fabrício usou como exemplos.

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