Nesta semana o uso de bicicleta como meio de transporte, recebeu no Jornal de Santa Catarina opnião contraria e defensoras do carro.
O colunista Cezar Zillig comparou o carro a Geni, personagem sofredora do Teatro de Arena, peça "Opera do Malandro", retratada em musica por Chico Buarque "Geni e o Zeppelin" ver vídeo ao final.
As opiniões a favor do carro:
Colunista Cezar Zillig:
"Geni
Com a angústia decorrente do trânsito lento, espesso, engarrafado, com as controversas medidas tomadas para aliviar o caos das ruas – algumas bizarras, como as “ciclofaixas” pra cima de pedestres – corredores de ônibus etc., virou moda demonizar o automóvel. Agora é “in” criticar automóvel, insinuar que motoristas sejam todos animados por egoístas interesses burgueses etc. Falar mal de automóvel confere uma imagem de atualização, altruísmo, esclarecimento. O automóvel – e seus usuários – corporificam a Geni da vez em que todos querem atirar caca.
É óbvio que o excesso de veículos nas ruas é um problema. Qualquer um enxerga isto. Reconhecer consequências é fácil; mais difícil é identificar causas.
A situação é mais grave do que parece e as consequências mais extensas. A sociedade moderna viceja baseada no consumo: consumo de qualquer coisa, essencial ou supérflua, é necessário para que seus produtores tenham uma justificativa para continuarem sobrevivendo. A sociedade moderna e seu estilo de vida se encontra refém de um diabólico ciclo vicioso: estamos condenados a crescer e consumir. É uma das armadilhas ecológicas em que nos metemos.
Em meados da década de 50, o presidente Juscelino Kubitschek optou por desenvolver a indústria automobilística – e a construir rodovias – em detrimento do transporte ferroviário. Uma decisão discutível até hoje.
O progresso que o Brasil provincial experimentou desde então é inegável. O advento da indústria automotiva ensejou o desenvolvimento de todo o parque industrial nacional. O mercado também se expandiu. Hoje o mercado automobilístico representa 10% do PIB nacional. Especialistas avaliam que um quarto do valor agregado do setor industrial decorra da indústria automotiva. O Brasil é o sexto maior fabricante de veículos e o quinto maior consumidor de automóveis, ficando atrás apenas dos EUA, China, Japão e Alemanha.
O automóvel não é apenas um meio de transporte; é um dos meios de vida nacional. É recomentável, antes de vociferar contra os carrinhos engarrafados, considerar as milhares de pessoas – aqui em Blumenau mesmo – que têm seus empregos direta ou indiretamente relacionados à indústria automobilística. Pessoas que são meus, teus, nossos clientes, fregueses, fornecedores, prestadores de serviços etc. Portanto, devagar com o andor".
E do senhor Eduardo Schlup, Dentista além de defender o carro atacou os defensores da bicicleta como meio de transporte:
"CEZAR ZILLIG (1)
Muito sábias as palavras do colunista Cezar Zillig, no artigo Geni (Santa, 14 de março), sobre os constantes ataques ao uso do automóvel. Hoje em dia, os politicamente corretos fazem a apologia da bicicleta, se esquecendo que a maioria da população, principalmente os mais humildes, detestam este tipo de transporte. Quem defende a bicicleta é porque nunca precisou usá-la. Pobre quer é carro, que traz conforto e segurança. A maioria dos defensores da bicicleta o fazem para parecer modernos e ecologistas."
A resposta a estas duas pessoas veio aos montes, minha caixa de e-mail ficou cheia, nem consegui ler a metade ainda. E na sessão cartas do Jornal de Santa Catarinas muitos destes "modernos e ecologistas" responderam, não vou transcrever todas, pois são muitas e algumas bem grandes. Só o artigo publicado, no mesmo jornal, do Senhor Jonatha Jünge (http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,182,3243573,16709), mas não a versão com cortes do Jornal e sim a que recebi em e-mail, um daqueles muitos, que não li a metade ainda.
Fiquei bastante surpreso com a comparação entre a personagem Geni e os automóveis, tinha tudo para ser a mais pura ironia. Numa cidade onde o pedestre é reprovado publicamente, na capa do jornal, como o mal educado do trânsito, me custa acreditar que o carro seja o injustiçado da história.
O desenvolvimento da indústria automobilistica no Brasil também nos colocou em outro 5o. lugar num ranking mundial: o de mortes no trânsito. Aproximadamente 35 mil pessoas morrem anualmente no trânsito brasileiro. Se adicionarmos o stress provocado pelo trânsito e o sedentarismo daqueles que não sabem sair de casa sem seu carro, não fica dificil imaginar que uma sociedade com menos carros e maior aproveitamento da energia humana seria no mínimo mais longeva (sem contar a qualidade de vida).
Quanto às vidas (ou melhor, empregos) que dependem da indústria automobilística, vale dizer que se a quantidade de incentivos e financiamentos que as montadoras recebem fosse aplicado em outras áreas, como por exemplo na indústria téxtil e agricultura familiar, nossa região e todo país poderiam ser beneficiados. Além disso, o montante da renda familiar dedicado à compra e manutenção de um veículo (em certos casos acima de 50%) poderia ser utilizado no consumo de outros bens e serviços, aquecendo assim outras áreas da economia -- desde que a cidade, e seus usuários, deêm condições para se caminhar, pedalar e utilizar o transporte público.
(Em 2007 a prefeitura de São Paulo retirou todos os outdoor da cidade, e os empresários do setor apontaram o aumento do desemprego como um justifica para manter suas atividades. Sub-empregados como coladores de cartazes continuam na informalidade, e agências de publicidade passaram a investir mais em mídias como jornais e rádio, e também em patrocínio à eventos culturais, artísticos e esportivos).
Londres aplica taxas pesadas para carros que circulam no centro e expande vertiginosamente sua malha cicloviária. Nova Iorque fechou a Times Square somente para pedestres, seguindo projeto de Jan Gehl, urbanista dinamarquês que na década de 1980 foi chamado de louco por proibir o tráfego de carros no centro de Copenhagen (machetes no jornal diziam "Não somos a Itália", por conta do clima do país nórdico pouco convidativo para sair na rua) - vale a pena conferir o efeito em escala mundial. Bogotá é o exemplo latino americano que dispensa comentários. Inverteram a ordem: "primeiro as pessoas, depois ruas, depois edifícios".
Utilizamos um motor com centenas de cavalo-força para mover uma massa de toneladas, que estatisticamente carrega pouco mais de uma pessoa... Não se trata de demonizar o carro, mas é preciso dar nome aos bois e saber identificar o problema: a cultura do automóvel é o modismo que custa a passar.
"Podemos então falar de uma cultura' automotiva? Sim, pelo fato das relações derivadas do uso do automóvel impregnarem, de determinada maneira, o jeito de ser do homem modernizado: eles se reconhecem pelo carro que têm e nem imaginam como seriam suas vidas sem 'Ele'."
(Tatiana Schor em “O Automóvel e o Desgaste Social” - Revista São Paulo em Perspectiva, vol.13-nº3, 1999)
Um abraço e espero pedalarmos juntos novamente!"
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